China faz grande aposta em veículos elétricos com investimento do Brasil
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China faz grande aposta em veículos elétricos com investimento do Brasil

Jun 11, 2023

A BYD deverá gastar US$ 600 milhões em um novo complexo para construir carros, ônibus e caminhões elétricos e híbridos, à medida que a China e o Brasil se aproximam.

São Paulo, Brasil– Stella Li estava na frente de um palco lotado, batendo um tambor bem decorado ao ritmo de samba-reggae.

Momentos antes, Li, vice-presidente global da maior fabricante mundial de veículos eletrônicos, BYD, havia anunciado que a empresa chinesa com sede em Shenzhen abriria um complexo industrial no estado da Bahia, no nordeste do Brasil.

“Nosso sonho é construir a Bahia como um centro de inovação e alta tecnologia”, disse ela em evento no início de julho.

A BYD planeja investir 3 bilhões de reais (US$ 600 milhões) para gerar mais de 5.000 empregos e produzir carros elétricos e híbridos, bem como ônibus e caminhões elétricos, em Camaçari, perto da capital da Bahia, Salvador.

O plano marca uma vitória política para o governo do presidente brasileiro Luiz Ignacio Lula da Silva, ele próprio um ex-metalúrgico, que espera “reindustrializar o Brasil” com o apoio da China.

No ano passado, outro fabricante chinês, a Great Wall Motor, anunciou que iria investir 1,9 mil milhões de dólares no Brasil durante a próxima década para produzir carros híbridos e eléctricos no estado de São Paulo. A expectativa é que a produção comece no próximo ano.

Empresas automóveis ocidentais como a Ford e a Mercedes-Benz deixaram o Brasil nos últimos anos, depois de se terem estabelecido lá há décadas, agravando os problemas de desindustrialização do país. Mas os fabricantes de automóveis chineses estão a começar a preencher a lacuna como parte da ambiciosa expansão da produção automóvel de Pequim no estrangeiro.

Os planos dos fabricantes chineses carregam um simbolismo especialmente forte: a BYD planeia instalar-se numa fábrica abandonada da Ford, enquanto a Great Wall Motors assumirá uma antiga fábrica da Mercedes-Benz.

Especialistas apontam para uma série de benefícios para as montadoras chinesas no Brasil, um país de renda média com 203 milhões de habitantes e uma política externa não alinhada.

“Não há tensão geopolítica aqui com a China, ao contrário da Europa, dos EUA ou do Canadá”, disse Mauricio Santoro, cientista político e autor de Relações Brasil-China no Século 21, à Al Jazeera. “Não há veto às empresas chinesas, sendo o grande exemplo a Huawei, que atua no Brasil com total liberdade.”

Ele disse que as novas instalações da BYD funcionarão como um ponto de partida para a expansão na região.

“Vão usar o Brasil como plataforma de exportação para outros países da América do Sul, para países como Argentina e Chile, que é algo que outras multinacionais também fazem aqui”, acrescentou.

Quase metade dos investimentos atuais da China na América do Sul estão no Brasil, o que oferece oportunidades para os fabricantes chineses, disse Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China.

“O Brasil é um país que tem uma classe média emergente”, disse ele à Al Jazeera, “e é um país onde as pessoas querem ter um carro”.

De acordo com o Instituto de Geografia e Estatística do Brasil, pouco menos de 50% dos domicílios do país tinham carro em 2022, em comparação com 92% nos Estados Unidos.

Os planos dos fabricantes de veículos chineses reflectem também, em parte, a consolidação da ascensão da China na América do Sul e talvez o início de um novo capítulo da mudança geopolítica mais marcante do continente neste século.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, tendo ultrapassado os Estados Unidos em 2009, com quase 151 mil milhões de dólares em comércio entre os dois países em 2022, segundo dados oficiais do governo.

Cumprindo agora o primeiro ano de um terceiro mandato histórico, Lula restabeleceu relações abertamente calorosas com Pequim com uma visita à China em abril, onde se encontrou com o presidente Xi Jinping. A visita parecia ter como objetivo reparar um relacionamento anteriormente tenso pela posição anti-China do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.

Como parte desse relacionamento renovado, o Brasil ofereceu concessões à China para atrair o fabricante de automóveis.